Irmã Dulce: eficiência e conforto para pacientes e funcionários

Brinquedoteca, conforto médico e apoio aos funcionários são destaques do projeto

Por Nádia Almeida | 2/7/2007

Compor ambientes acolhedores e ao mesmo tempo garantir organização e rígida assepsia. Com o desafio de elaborar o projeto arquitetônico do futuro Hospital Municipal Irmã Dulce, equipe da Coordenadoria de Projetos Especiais da Prefeitura conciliou orientações técnicas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) com a permanente busca pela humanização. O resultado será notado em espaços especiais como a Brinquedoteca, voltada aos pacientes internados na ala pediátrica.

O Irmã Dulce ocupará prédio de seis pavimentos na Rua Dair Borges (no Boqueirão), onde hoje funciona a Maternidade no andar térreo, e parte das instalações do atual Hospital Municipal de Praia Grande. Existirá oficialmente a partir de 1º de dezembro, quando a Unifesp assumirá a gestão hospitalar do Município. As obras de adequação do prédio ao projeto terão início em agosto, mas uma força-tarefa já iniciou os preparativos para não prejudicar o atendimento ao público, que não será paralisado.

No projeto, a preocupação com a humanização é notada na tematização da área de atendimento às crianças e brinquedoteca, com imagens lúdicas; na criação de espaços para conforto médico, apoio aos pais e a funcionários; e no anfiteatro de 64 lugares voltado a palestras, atualizações e apresentações ao público.

“Não houve preocupação com arroubos arquitetônicos, mas com a essência, que é o bem estar do usuário”, explica o coordenador de Projetos Especiais, arquiteto Luis Fernando Félix de Paula. “Acho que em nenhum outro edifício isso é mais importante do que num hospital, onde lidamos diretamente com a vida humana.” A coordenadoria assumiu a tarefa por solicitação do prefeito Alberto Mourão, que espera, no futuro, certificação internacional à unidade.

Mãos - Concebido pelas arquitetas Denise Junqueira, Camila Rospe e Juliana Navarro, sob a coordenação de Félix de Paula, o projeto foi orientado por técnicos da Unifesp, para que se baseasse nas normatizações do setor. “É um projeto desenvolvido a quatro mãos – Prefeitura e universidade. O resultado saiu muito bom porque estamos conversando desde o início”, salienta o arquiteto.

Da reunião inicial com diretores da universidade até projeto concluído foram três meses de exaustivo trabalho, com visitas aos hospitais de Diadema, Mogi das Cruzes e Pirajussara, administrados pela Unifesp. “Tivemos uma assessoria extremamente detalhada da equipe médica, de enfermagem e de manutenção, que nos acompanhou em todas as visitas”, prossegue Félix de Paula. “Começamos a desenvolver o projeto procurando adaptar o Irmã Dulce às necessidades da Unifesp para termos um hospital de ponta.”

Uma vez concluído o projeto, a próxima etapa será o início das obras, logo após a assinatura do convênio entre Prefeitura e a universidade, o que deve acontecer nas próximas semanas. “O processo de convênio está bastante adiantado”, explica o secretário de Saúde, Eduardo Dall´Acqua. “O projeto foi desenvolvido em função do que o hospital vai se tornar: de uma complexidade mais elevada. Não foi planejado de forma isolada. Sua concepção visa a interação entre os serviços de pronto-atendimento, exames e diagnósticos e os procedimentos de internação.”

A força-tarefa responsável por garantir o menor impacto possível nos serviços enquanto durarem as obras é formada por profissionais das secretarias de Obras (Seop) e de Saúde (Sesap) e Unifesp.

Brinquedoteca – Os espaços infantis são destaques no projeto. A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal, para recém-nascidos, ao lado da maternidade, no térreo, e a UTI Infantil terão detalhes coloridos, mas suaves, e tematização nas paredes. A internação pediátrica contará com banheiros e brinquedoteca. “Segundo os médicos, a recuperação é mais rápida com a humanização do ambiente”, informa Denise Junqueira.

No quinto andar, destinado à Pediatria, haverá espaço de apoio aos pais. “Na UTI, há casos de crianças que permanecem por longo período. Os pais precisam dormir, comer, tomar banho lá mesmo”, argumenta a arquiteta Camila.

“Menina dos olhos” da equipe, a brinquedoteca terá 68 metros quadrados de muita alegria. “Desde o piso vinílico próprio, que é mais confortável, até os brinquedos e armários para atividades lúdicas, é um local para a diversão das crianças”, prossegue Camila Rospe.

Controle total, da farmácia à cozinha

O projeto do Irmã Dulce nasceu a partir de transformações da parte antiga (onde hoje o hospital funciona) e do prédio novo, com andar térreo e mais cinco pavimentos, conforme relata a arquiteta Denise Junqueira. “Da farmácia que fraciona e identifica cada medicamento à cozinha dividida em boxes, procuramos assegurar um fluxo eficaz para garantir completo controle nos procedimentos”, salienta.

Começando pelo andar térreo, houve atenção especial com os acessos, que são diferentes para público e funcionários. “Teremos o acesso principal no prédio novo (na Rua Dair Borges). Na lateral ficará o de funcionários e o de serviços de carga e descarga”, conta. “Na Rua Paulo Fefin ficará o acesso para depósito de lixo e a cozinha.”

Na entrada de funcionários foram dispostos os serviços de apoio e atendimento, como a Medicina e Segurança no Trabalho, sala de dinâmica de grupo e vestiários. “Os funcionários já entram paramentados. Seus pertences ficam numa área de malote”, complementa.

Em seguida, vem a parte administrativa, onde ficarão as salas de diretorias, chefias e superintendência. Na seqüência, a seção de arquivos em uso e o arquivo-morto.

“Teremos ainda áreas de conforto médico. No térreo, são dois espaços (masculino e feminino), com salas de estar, copa, sanitário e quarto de repouso”, prossegue.

Farmácia – Próxima a essa área, ficará a farmácia, que obedecerá ao mesmo padrão do Hospital Estadual de Diadema. “Tem toda a questão da medicação, que é dosada e identificada (antes de ser ministrada aos pacientes)”, explica Denise, observando que os remédios permanecem no depósito de não-perecíveis enquanto não são encaminhados para a farmácia, onde se faz o trabalho de dosagem. Isso evita desperdícios e erros. Para se ter idéia do grau de controle, se um comprimido cair no chão, quem o encontrar saberá para qual paciente seria ministrado porque a embalagem possui código de barras com esses dados.

Outro destaque do térreo será o Serviço de Apoio a Diagnóstico e Terapias (SADT). “O serviço já existe (anexo ao Pronto-Socorro Central), mas foi ampliado e terá duas salas de raios X e mais salas de tomografia, mamografia, eco, densitometria óssea, ultrassonografia e endoscopia”, enumera. “E, como todos os demais ambientes, contempla apoio aos serviços e aos funcionários.”

O Banco de Sangue será transferido de onde está instalado (perto do estacionamento) para junto ao SADT e ao pronto-socorro, ponto estratégico. “O banco ganhará salas de estocagem, pré-estocagem e processamento de sangue. Hoje não temos essas divisões”, adianta Denise.

Padrão de qualidade evita risco de contaminação

A preocupação com a assepsia é quase obsessiva, para que seja evitado qualquer tipo de contaminação. Ao encontro disso, as arquitetas criaram um espaço especial para preparação e higienização de alimentos, além da limpeza de utensílios e acessórios.

Ao invés da única cozinha existente, que também é usada como refeitório, a equipe projetou um refeitório de 72 lugares. A cozinha será reformada e ampliada, fazendo parte de uma área de nutrição e dietética que envolve o lactário. “A cozinha prepara alimentos, tanto para funcionários como para pacientes, que podem receber dieta normal ou especial. Na parte do lactário , teremos a preparação de mamadeiras e a nutrição interal, líquidos prontos, que eles só envasam”, ilustra a arquiteta Denise. “Teremos ainda a sala da nutricionista, com visão para a cozinha e lactário.”

Subdividida em boxes, a cozinha preparará os pratos em espaços diferentes: há uma repartição só para carnes, por exemplo. A lavagem das louças será feita em local separado, da mesma forma que os carrinhos de cozinha.

“Tem toda uma questão de fluxos, tanto no térreo como nos andares”, conta Camila Rospe, explicando que o lixo segue para outro local.

Esterilização – O hospital contará com uma Central de Esterilização de Material, onde tudo o que for utilizado em cirurgias e procedimentos, que não for descartável, será higienizado e desinfetado. “A central terá comunicação direta com o centro obstétrico e centro cirúrgico. Os demais materiais irão por carrinhos”, cita Denise.

Segundo o projeto, a lavanderia se subdivide em área suja, área limpa e distribuição. “Haverá uma sala de costura para restauração e conservação de vestimentas e roupas de cama”, menciona Denise. Como se trata de uma área estéril, os funcionários terão de se trocar para entrar e sair.

Complementando o espaço, o hospital contará com local para manutenção (onde os equipamentos serão calibrados e arrumados) e até uma marcenaria (para confecção e manutenção de mobiliário).

Veja, abaixo, como ficarão os setores hospitalares:

- Na parte antiga, onde hoje estão leitos das Alas A e B, haverá toda a parte administrativa. No prédio novo, todos os andares terão recepção e estrutura de apoio;

- Térreo: continuará abrigando a maternidade, mas adaptada e com 26 leitos. Destaque para a UTI neonatal (com 10 leitos), berçário de médio e baixo risco (nove leitos) e centro obstétrico;

- Primeiro andar: clínica médica (enfermaria) com 10 quartos com cinco leitos cada (incluindo banheiros), além de dois isolamentos (52 leitos no total), sala de múltiplo uso e central de medicamentos;

- Segundo andar: 21 quartos com dois leitos cada um (totalizando 42 leitos), banheiros e dois quartos de isolamento;

- Terceiro andar: Centro Cirúrgico (com cinco salas e sala de recuperação pós-cirúrgica) e duas salas de cirurgia ambulatorial. Nove leitos de cirurgia ambulatorial (tipo “hospital-dia”);

- Quarto andar: 20 leitos de UTI adulta e 16 leitos de clínica cirúrgica eletiva ambulatorial; e

- Quinto andar: 19 leitos de internação pediátrica com banheiros e UTI infantil com 10 leitos, brinquedoteca e sala de apoio aos pais.